
A escuta como ato político e cultural
No Brasil, escutar vozes negras e indígenas não é apenas um gesto de atenção — é um ato político. Durante séculos, esses povos foram silenciados, excluídos e invisibilizados em espaços de poder e debate. O VI Seminário Sesc Etnicidades, realizado entre 24 e 26 de julho em Belém (PA), se propõe a inverter essa lógica: amplificar vozes históricas que resistem, criam e constroem o país todos os dias.
Com o tema “Saberes locais, histórias e encantarias: ouvir a terra, escutar os povos”, o seminário cria um espaço onde escuta, arte e política se encontram — fortalecendo resistências e imaginando futuros mais justos e plurais.
Cultura e política: onde começa o encontro?
Ao reunir artistas, líderes comunitários, curadores, pesquisadores e mestres da cultura popular, o evento não apenas celebra a diversidade. Ele questiona estruturas de exclusão, propõe alternativas e aponta os saberes tradicionais como centrais para a construção de novos modelos sociais.
Não se trata de uma programação apenas estética, mas de uma curadoria que promove encontros potentes entre cultura e política. Como afirmou a indígena guarani Geni Núñez, durante a conferência de abertura, “não basta viver na terra; é preciso viver com a terra”. Sua fala evoca a urgência de uma reconexão com o território, que é também reconexão com os povos que historicamente o preservaram.
Ações políticas através da arte e da memória
Cada atividade do seminário — seja roda de conversa, exibição de filme, show ou performance — carrega ações políticas embutidas na prática cultural. Veja alguns exemplos:
🎤 “Pretinhas do Arapemã” – Documentário
Ao retratar um grupo de mulheres quilombolas que cantam e dançam na comunidade de Santarém (PA), o curta mostra como o corpo e a voz se tornam instrumentos de resistência frente às ameaças ao território. Memória viva em tempos de remoção e crise ambiental.
🧭 Roda de conversa com Beto Oliveira e Dinayana Tabajara
O artista afro-indígena Beto Oliveira trouxe a discussão sobre encantarias amazônicas como expressão de espiritualidade e resistência. Já Dinayana, diretora do Museu dos Povos Indígenas do Piauí, reforçou que museus devem ser ferramentas de resistência cultural, não vitrines coloniais.
🗣️ Curadoria com Naine Terena
Ao abordar o papel social dos museus, a curadora indígena propôs uma ruptura com narrativas eurocêntricas e a abertura de espaços institucionais à diversidade real do Brasil.
Ações culturais com impacto social
Além da denúncia e da crítica, o Seminário também mostra caminhos e soluções. Projetos apresentados nos debates reforçam que comunidades negras e indígenas não são apenas fonte de problemas — são fonte de soluções, inovações e práticas sustentáveis.
Veja exemplos:
- Wapichana Produções, da multiartista Jama Wapichana, fortalece a economia criativa indígena na Amazônia.
- O Instituto Aió, de Gean Pankararu, articula projetos culturais de música e audiovisual ligados à comunidade indígena de Pernambuco.
- O espetáculo Corpos de Tambor, do Coletivo Croa, articula dança urbana e ancestralidade, levando juventude periférica para o palco e promovendo arte como re-existência.
A ancestralidade como projeto de futuro
Um dos pontos mais potentes do evento é compreender a ancestralidade não como nostalgia, mas como projeto de futuro. Ela se manifesta como:
- Saberes agroecológicos e práticas sustentáveis.
- Modos coletivos de viver, onde o bem-estar não é individual.
- Tecnologias sociais baseadas em partilha, circularidade e cuidado.
- Espiritualidade que conecta corpo, natureza e comunidade.
Na fala da artista e educadora Nay Jinkss, essa ancestralidade aparece como “imagem e memória afetiva”, rompendo estereótipos sobre os corpos negros e indígenas na arte.
Uma política da escuta
O evento propõe que escutar não é passividade — é política em ação. Escutar:
- É abrir espaço para a palavra do outro.
- É reconhecer outras formas de saber.
- Além de tudo é acolher visões de mundo que foram silenciadas.
- É repensar os próprios privilégios.
- É construir um Brasil onde todos possam falar — e ser ouvidos.
Resistência como presença
Em todas as falas, o tema da resistência aparece com uma força simbólica: resistir não é apenas dizer “não” ao que nos oprime — é criar espaços onde a vida se afirma. Onde culturas negras e indígenas se expandem, criam, se reinventam.
Resistência também é:
- Ensinar a língua ancestral ao neto.
- Cantar carimbó com mulheres da aldeia.
- Criar arte dentro da floresta.
- Registrar memória em forma de música.
- Fazer política sem partidos, mas com comunidade.
Interseccionalidade e vozes múltiplas
O seminário também mostrou a força de mulheres negras e indígenas, LGBTQIAP+ e lideranças periféricas. As falas e apresentações trouxeram à tona a interseccionalidade como prática: não dá para falar de povo indígena sem falar de território, gênero, juventude, religião, sexualidade, saúde e educação.
A presença de artistas como Dona Onete e Nay Jinkss revelou o poder de encontros entre gerações, onde avó e neta trocam não apenas afetos, mas visões de mundo.
Interseccionalidade e vozes múltiplas
O seminário também mostrou a força de mulheres negras e indígenas, LGBTQIAP+ e lideranças periféricas. As falas e apresentações trouxeram à tona a interseccionalidade como prática: não dá para falar de povo indígena sem falar de território, gênero, juventude, religião, sexualidade, saúde e educação.
A presença de artistas como Dona Onete e Nay Jinkss revelou o poder de encontros entre gerações, onde avó e neta trocam não apenas afetos, mas visões de mundo.
Conclusão: quando o silêncio se transforma em voz
Ao longo de três dias, o Seminário Sesc Etnicidades provou que escutar é o primeiro passo para transformar.
As falas, os corpos, as canções e os gestos presentes ali nos lembram que o Brasil real fala muitas línguas, canta muitos cantos, dança muitas histórias.
E quando essas vozes são ouvidas de verdade, algo se repara, se reconstrói e se fortalece.
Perguntas Sobre o VI Seminário sobre Etnicidades
Qual é o objetivo do VI Seminário Sesc Etnicidades?
Promover um espaço de escuta ativa, troca de saberes e fortalecimento de vozes negras, indígenas e tradicionais, por meio da arte, da ancestralidade e do diálogo com temas sociais, políticos e ambientais.
O que significa resistência cultural?
É a preservação ativa de tradições, saberes e identidades por povos historicamente marginalizados, mesmo diante de racismo, opressão e exclusão social. Manter viva a cultura é, em si, um ato político de resistência.
Como a arte é usada como instrumento político no seminário?
A arte aparece como denúncia, memória e cura. Performances, músicas, filmes e falas culturais dialogam com lutas sociais, ambientais e de identidade, fortalecendo a mensagem dos povos originários e afro-brasileiros.
O evento é destinado apenas a especialistas e pesquisadores?
Não. O seminário é aberto ao público em geral, independentemente de formação acadêmica. Basta interesse, respeito e disposição para aprender com culturas diversas.
Qual é o impacto social do Seminário Sesc Etnicidades?
O evento amplia o debate sobre inclusão, justiça social, educação antirracista, museologia decolonial, sustentabilidade e valorização dos saberes tradicionais. Ele cria pontes entre o passado ancestral e o futuro coletivo.
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