
Introdução
No Brasil, a arte popular não é apenas uma forma de expressão. Ela é memória viva, identidade coletiva e, acima de tudo, resistência. Enquanto a elite exalta o que vem de fora ou valoriza a arte europeia e acadêmica, manifestações do povo são muitas vezes reduzidas a “folclore”, vistas como atrasadas ou limitadas a datas comemorativas.
Mas por que isso acontece? E o que essa desvalorização revela sobre as estruturas sociais e culturais do nosso país?
Neste artigo, vamos entender o que é arte popular, por que ela incomoda certos setores da sociedade, e como ela continua existindo — mesmo sendo constantemente silenciada.
O Que é Arte Popular, Afinal?
Arte popular é a criação feita pelo povo e para o povo. É a arte que nasce nas comunidades, nas periferias, nos sertões e nas ruas. Ela não precisa de diploma nem de galeria. Precisa de vivência, tradição e pertencimento.
Exemplos de arte popular:
- Cordel nordestino
- Maracatu, samba de roda, coco de embolada
- Bumba meu boi, reisado, congadas
- Esculturas em madeira, barro ou cabaça
- Bordados, rendas, tapeçarias
- Pinturas e objetos com materiais reciclados
- Música de terreiro, ladainhas e toques sagrados
Essas expressões culturais costumam ser transmitidas oralmente, de geração em geração, dentro das famílias e das comunidades. Não seguem manuais. Seguem o ritmo da vida.
O Silenciamento Histórico da Cultura Popular
Desde o período colonial, saberes indígenas, africanos e do interior do país foram considerados inferiores. A cultura dominante — europeia, cristã e urbana — tratava esses saberes como algo a ser corrigido, domado ou esquecido.
O apagamento veio de várias formas:
- Escolas que não ensinavam nada sobre cultura popular
- Mídias que ridicularizavam festas e costumes do povo
- Museus que ignoravam mestres e mestras da tradição
- Políticas públicas que só valorizavam o “erudito”
Esse silenciamento não foi por acaso. É uma forma de manter o controle sobre quem pode produzir cultura, quem pode ser ouvido e quem continua invisível.
Por Que a Arte Popular É Resistência?
Mesmo diante do desprezo institucional, a arte popular continua viva. Isso porque ela não depende da aprovação da elite para existir. Ela vive nas feiras, nas festas, nas igrejas do interior, nos terreiros, nas ruas e nos quintais.
A arte popular resiste porque:
- É coletiva — une comunidades inteiras
- É afetiva — carrega memórias e afetos
- Identitária — afirma o lugar de origem e a ancestralidade
- É autônoma — sobrevive mesmo sem patrocínio ou visibilidade
Ela resiste como ato político. Quando uma mestra bordadeira ensina uma menina a costurar, ela não está só ensinando um ofício. Está transmitindo história, força e pertencimento.
Excluídos no Palco: Quem Está Fora do Mercado da Arte?
Os grandes centros urbanos concentram museus, editais e investimentos em arte. Mas quem vive nas zonas rurais ou nas periferias raramente tem acesso a esses espaços.
O que acontece:
- Mestres e mestras populares não recebem apoio financeiro
- Suas criações não são expostas em galerias
- Muitos vivem em situação de pobreza, mesmo sendo detentores de saberes valiosos
E o mais grave: quando suas obras são reconhecidas, muitas vezes são apropriadas por artistas da elite, sem crédito ou devolução para suas comunidades de origem.
Casos Reais de Resistência Cultural
Apesar de todos os obstáculos, existem exemplos inspiradores de quem segue resistindo com arte.
🌀 Lia de Itamaracá – PE
Cantora e cirandeira, Lia levou a cultura popular de Itamaracá para o mundo, mesmo tendo sido ignorada por décadas pela grande mídia. Hoje é Patrimônio Vivo de Pernambuco.
🎭 Bumba Meu Boi do Maranhão
Reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO, essa manifestação cultural segue forte graças à resistência das comunidades locais.
🎨 Mestras do bordado de Caicó – RN
Grupos de mulheres que bordam histórias de suas famílias, da fé e da vida sertaneja. Suas obras são patrimônio afetivo e artístico.
🥁 Maracatu Nação Porto Rico – PE
Um dos maiores maracatus do Brasil, formado por descendentes de escravizados. Mantém viva a cultura afro-brasileira com batuque, dança e religiosidade.
Esses grupos seguem firmes — mesmo sem apoio constante — porque entendem que resistir é também uma forma de existir.
A Elite Usa, Mas Não Reconhece
É comum vermos elementos da cultura popular em:
- Estampas de roupas de grife
- Comerciais de TV
- Peças de teatro contemporâneo
- Obras vendidas em feiras de arte internacional
Mas muitas vezes esses símbolos são retirados de seu contexto original. Tornam-se enfeites. Perdem o sentido político e coletivo. O saber é usado, mas os mestres são esquecidos.
Isso se chama apropriação cultural. E é mais comum do que se imagina.
Caminhos Para Valorizar a Arte Popular Sem Apagar Sua Origem
Se queremos mudar essa realidade, precisamos mudar nossa postura diante da cultura popular. Isso começa com ações simples e diretas.
O que podemos fazer:
- Comprar diretamente de artesãos e mestres da tradição
- Frequentar festas populares com respeito e interesse
- Valorizar a cultura local e seus saberes
- Exigir políticas públicas que financiem a cultura popular
- Lutar contra o preconceito que trata essas expressões como “coisa de gente sem estudo”
A arte popular é um dos maiores tesouros do Brasil. E é nosso dever reconhecer sua força, sua beleza e sua urgência.
Conclusão
A arte popular é feita com barro, com linha, com tambor, com palavra e com alma. Ela não está nos grandes salões, mas está nos terreiros, nos becos e nos corpos. E é por isso que incomoda.
Ela fala de um Brasil que a elite tentou apagar, mas que segue vivo em cada ciranda, cada canto, cada gesto. É arte que grita, que canta, que resiste.
Valorizar a arte popular é um ato de justiça. É reconhecer que o saber do povo é tão valioso quanto qualquer outro.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Cultura Popular e Resistência
O que é arte popular?
É a arte criada pelo povo, fora dos circuitos elitistas. Envolve saberes tradicionais, festas, danças, músicas, artesanato e expressões culturais ligadas à vivência comunitária.
Por que a arte popular brasileira é desvalorizada?
Porque vem de grupos historicamente marginalizados, como comunidades negras, indígenas, rurais e periféricas. O preconceito de classe e raça ainda influencia essa desvalorização.
Qual a diferença entre arte popular e folclore?
O termo “folclore” é antigo e pode estereotipar a cultura. Já “arte popular” valoriza o saber vivo, coletivo e resistente das comunidades, reconhecendo o protagonismo dos seus criadores.
Como a arte popular resiste mesmo com pouco apoio?
Ela sobrevive pela oralidade, pela prática familiar e pelo senso de pertencimento. Mesmo sem incentivos oficiais, é passada de geração em geração em festas, rituais e comunidades.
Como posso apoiar a arte popular brasileira?
Valorize quem produz: compre diretamente de mestres e artesãos, visite feiras populares, divulgue essas manifestações e, principalmente, respeite suas origens e histórias.
A arte popular só existe no interior do Brasil?
Não. Ela também está presente nas periferias urbanas, favelas, subúrbios e grandes cidades. Onde há povo e identidade, há arte popular viva.
Por que a arte popular quase não aparece na mídia ou nos museus?
Porque muitos veículos e instituições seguem padrões elitistas e eurocêntricos, priorizando artistas acadêmicos e ignorando as manifestações culturais do povo.
A arte popular é só coisa antiga?
Não. Ela é ancestral, mas também atual. A arte popular se reinventa com as novas gerações, misturando tradição e inovação sem perder sua essência.
O que diferencia artesanato de arte popular?
O artesanato é uma expressão da arte popular, mas esta é mais ampla: inclui música, dança, teatro de rua, festas e outras formas culturais coletivas.
Por que a arte do povo é vista como resistência?
Porque persiste apesar do apagamento cultural, do preconceito e da falta de apoio. É resistência viva, transmitida por quem luta para manter suas raízes ativas.
Qual o papel da escola na valorização da arte popular?
A escola pode convidar mestres populares, incluir saberes locais no currículo e ensinar que o conhecimento também vem da cultura do povo, e não só dos livros.
Ainda existe preconceito contra arte popular no Brasil?
Sim. Muitas vezes, ela é tratada como inferior por preconceito racial, social e regional. Isso reflete um modelo de cultura dominado por padrões elitistas.
Por que muitas manifestações populares só aparecem em festas juninas ou no Dia do Folclore?
Porque o calendário escolar e turístico costuma reduzir essas culturas a datas comemorativas, sem reconhecer seu valor cotidiano e sua profundidade cultural.
É errado chamar cultura popular de folclore?
Não é errado, mas o termo “folclore” pode esvaziar o valor político dessas expressões. “Arte popular” reforça que são práticas vivas, criativas e carregadas de saber comunitário.
É possível viver de arte popular hoje em dia?
Sim, mas é desafiador. Muitos mestres vivem do que produzem, principalmente quando recebem apoio público, são reconhecidos como Patrimônio Vivo ou vendem diretamente ao público.
Por que dizem que a cultura popular incomoda a elite?
Porque ela revela uma identidade que escapa aos padrões impostos. A arte popular fala de ancestralidade, resistência e coletividade — temas que desafiam estruturas de poder.
Arte popular é menos importante que arte de galeria?
Não. Ambas têm valor. A arte popular carrega saberes coletivos profundos, mesmo que não esteja em museus. Sua importância está na vivência e na memória de um povo.
Por que muitas pessoas valorizam mais a cultura estrangeira do que a brasileira?
É reflexo do colonialismo. Muitos ainda associam cultura de valor ao que vem da Europa ou dos EUA, ignorando a riqueza das expressões culturais nacionais.
Quem são os verdadeiros artistas da arte popular brasileira?
São mestres e mestras que mantêm vivas práticas como capoeira, maracatu, bordado, cerâmica, reisado, repente, entre tantas outras manifestações do povo.
A cultura popular é coisa do passado?
Não. Ela está viva e se transforma com o tempo. A cultura popular se adapta às novas gerações, mantendo sua essência coletiva e ancestral.
O que acontece quando uma tradição popular desaparece?
Perde-se uma parte da identidade coletiva. Quando um saber deixa de ser transmitido, leva com ele histórias, símbolos e modos de vida únicos.
A arte popular só é lembrada no Dia do Folclore?
Infelizmente, sim, em muitos lugares. Ela é lembrada pontualmente e esquecida no restante do ano, o que compromete sua valorização contínua.
Por que a arte popular é considerada um ato político?
Porque ela afirma identidades, desafia padrões elitistas e resiste ao apagamento. Criar e manter cultura popular é também lutar contra a exclusão social.
Como posso evitar que a arte popular desapareça?
Apoie mestres locais, compre de pequenos produtores, divulgue festas e saberes populares, participe de eventos culturais e ensine crianças a valorizar sua própria cultura.
Livros de Referência para Este Artigo
Cascudo, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro.
Descrição: Obra clássica que documenta expressões da cultura popular e mostra a profundidade dos saberes tradicionais brasileiros.
Canclini, Néstor García. Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade.
Descrição: Analisa o conflito entre cultura erudita, popular e de massa na América Latina, com foco na desigualdade cultural.
Gonçalves, José Reginaldo Santos. A Retórica da Perda: os discursos do patrimônio cultural no Brasil.
Descrição: Obra crítica sobre como o Estado e as elites selecionam o que deve ser preservado, e o que pode ser esquecido.
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