
Introdução: Música que Nasce da Terra, do Corpo e da Tradição
A música brasileira é conhecida mundialmente por sua diversidade. Ritmos como samba, forró, frevo e maracatu conquistaram palcos no Brasil e fora dele. Mas o que muita gente não sabe é que por trás desses ritmos existem instrumentos pouco conhecidos, feitos de madeira, barro, couro, sementes e até ossos — verdadeiros tesouros sonoros da nossa cultura.
Esses instrumentos, muitas vezes artesanais e ancestrais, carregam memórias de povos indígenas, africanos, quilombolas e sertanejos. Não são vendidos em lojas comuns. Alguns só existem em pequenas comunidades. Outros são tocados apenas em festas sagradas ou rituais religiosos.
Neste artigo, você vai descobrir o som da terra: instrumentos musicais brasileiros que talvez você nunca tenha ouvido falar, mas que revelam muito sobre a alma do Brasil.
Por Que Muitos Instrumentos Brasileiros São Pouco Conhecidos?
A música que toca nas rádios e no streaming é só uma parte do Brasil. Muitas manifestações musicais brasileiras continuam invisíveis porque:
- São transmitidas oralmente, de geração em geração, fora da escola e da academia.
- Vivem em territórios tradicionais: aldeias, quilombos, roças e periferias.
- Não são valorizadas pela indústria musical, que prefere sons comercializáveis.
- Têm função espiritual ou ritual, o que limita seu uso a contextos sagrados.
Esses sons existem — mas para ouvi-los, é preciso sair do circuito da música de massa e mergulhar no Brasil profundo.
10 Instrumentos Musicais Brasileiros Pouco Conhecidos (e Fascinantes)
1. Berimbau-de-barriga (ou berimbau-de-boca)
Usado por povos indígenas e sertanejos do Norte e Nordeste, o berimbau-de-boca é um instrumento de corda simples, com uma vareta e uma cabaça ou a própria boca como ressonador. O som é grave, metálico e hipnótico. Ele se comunica com a alma — não é à toa que muitos o chamam de “telefone com os espíritos”.
2. Urucungo
Antepassado africano do berimbau moderno, o urucungo é um instrumento de origem bantu que chegou ao Brasil com os povos escravizados. Ele é usado em rituais do Candomblé Angola. Seu som profundo e ancestral acompanha cânticos, rezas e danças. É um símbolo de memória e resistência negra.
3. Zabumba de maracatu (ou zabumba de couro cru)
Diferente da zabumba comum no forró, a do maracatu rural tem couro cru e som forte, quase ritualístico. Tocados com baquetas pesadas, esses tambores ditam o ritmo dos cortejos de maracatu rural em Pernambuco. O som é tão vibrante que parece vir do chão.
4. Pife (ou pífano)
Flauta transversal feita de bambu, muito usada no Nordeste. O som é agudo, penetrante e cheio de alma. Tocada em duplas ou trios, forma as chamadas bandas de pífano, que animam festas religiosas, feiras e cortejos. É o som da roça que resiste.
5. Ganzá artesanal
Chocalho feito com bambu, lata ou tubo metálico, cheio de sementes ou miçangas. Muito usado em ritmos do Norte e Nordeste, como o coco, o carimbó e a ciranda. É simples, mas poderoso: marca o tempo e preenche o espaço com um som contínuo e envolvente.
6. Cuíca-de-boca (ou cuíca indígena)
Versão primitiva da cuíca, feita com bambu e corda de fibra natural. É friccionada com a boca para gerar sons graves e engraçados. Usada em danças indígenas e, em algumas regiões, nas festas juninas tradicionais.
7. Maracá indígena
Instrumento ritual presente em quase todas as etnias indígenas brasileiras. Feito de cabaça seca com sementes dentro, preso a um cabo de madeira. É usado em rituais, danças, rezas e curas. Não é só instrumento musical — é ferramenta espiritual.
8. Tambor de crioula
Presente no Maranhão, é feito de tronco escavado e couro animal. Tocado por mulheres que dançam e cantam em honra a santos católicos e orixás. Cada tambor tem um nome e função. O som é sagrado, ligado à fé e à ancestralidade africana.
9. Reco-reco de osso ou bambu
Mais rudimentar que os modernos, é feito com uma base de osso ou madeira com sulcos, e uma vareta de bambu. Produz um som seco, “arranhado”. É usado em rodas de capoeira, congadas e ritmos rurais. Também é símbolo da simplicidade criativa do povo brasileiro.
10. Caixa de folia (ou caixa de reisado)
Tambor pequeno, usado nas folias de reis, reisados e congadas. Tocado com baqueta ou com a mão. Produz um som seco, que marca a cadência das canções sagradas e das jornadas dos foliões. Sua batida é espiritual, coletiva e cerimonial.
O Que Esses Instrumentos Revelam Sobre o Brasil Profundo?
Esses instrumentos mostram que a música no Brasil é mais do que entretenimento. Ela é resistência, espiritualidade, comunicação e identidade. Cada instrumento tem uma função social: muitos são sagrados, outros celebram a colheita, protegem a comunidade ou mantêm vivos os saberes dos antepassados.
Eles não foram feitos em fábricas, mas criados a partir da natureza — com barro, cipó, taquara, ossos, couro e madeira. Cada som tem história. Cada batida, um significado. Ouvir esses instrumentos é ouvir o coração da terra brasileira.
Onde Ver ou Ouvir Esses Instrumentos?
Embora raros na mídia, esses instrumentos continuam vivos em festas, terreiros e comunidades tradicionais. Alguns lugares para conhecê-los:
- Festas populares: Maracatu em Pernambuco, Tambor de Crioula no Maranhão, Reisados em Minas Gerais.
- Terreiros de Candomblé e Umbanda: Muitos tocam atabaques, agogôs, urucungos e outros instrumentos sagrados.
- Grupos de cultura tradicional: Como bandas de pífano, congadeiros, povos indígenas e mestres de capoeira.
- Museus especializados:
- Museu da Música de Ouro Preto (MG)
- Museu da Imagem e do Som (SP)
- Centro Cultural São Francisco (PB)
Você também pode assistir documentários e ouvir álbuns gravados por projetos de etnomusicologia ou coletivos culturais.
A Urgência de Preservar e Valorizar Sons Ancestrais
Com a globalização e o domínio da indústria musical, muitos desses sons estão ameaçados. Jovens crescem sem saber da existência desses instrumentos. Mestres morrem sem deixar discípulos. O Brasil corre o risco de perder parte essencial de sua alma sonora.
Valorizar esses sons é uma forma de resistir ao apagamento cultural. É dar espaço à diversidade, ao sagrado, ao regional, ao invisível. É reconhecer que o Brasil não se explica só com guitarra, teclado ou bateria — mas com tambor, berimbau, pífano e maracá.
Conclusão Final: Ouvir é Honrar a Terra
Conhecer os instrumentos esquecidos do Brasil é mais do que ampliar o repertório musical. É um gesto de respeito à terra, aos povos que a habitam e às histórias que resistem mesmo sem palco.
Quando você escuta um pífano tocando no sertão ou um tambor de crioula batendo no Maranhão, você não está apenas ouvindo música — está ouvindo a alma do Brasil.
Perguntas Frequentes Sobre Instrumentos Musicais
Quais são os instrumentos musicais mais antigos do Brasil?
Instrumentos como o maracá, o urucungo, o berimbau-de-boca e o pífano estão entre os mais antigos do Brasil. Com raízes indígenas e africanas, são usados há séculos em rituais e festas populares.
Onde posso ver instrumentos tradicionais sendo tocados ao vivo?
Em festas como Maracatu, Tambor de Crioula, Folia de Reis, Lavagem do Bonfim e Reisado. Também em aldeias indígenas, terreiros de religiões afro-brasileiras e eventos culturais em comunidades tradicionais.
Qual a diferença entre o urucungo e o berimbau?
O urucungo é um arco musical ancestral de origem africana e considerado o antecessor do berimbau. Ambos produzem sons com cabaça e corda, mas o urucungo tem uso mais ritualístico e sagrado.
Do que são feitos os instrumentos musicais tradicionais?
De materiais naturais como cabaça, bambu, couro, sementes, madeira e taquara. A construção é artesanal e varia conforme a cultura e o território de origem.
Por que esses instrumentos não são ensinados nas escolas?
Por falta de valorização da cultura popular no currículo oficial. Muitas escolas ainda priorizam instrumentos ocidentais e negligenciam saberes indígenas e afro-brasileiros.
Quais instrumentos são comuns em festas do interior do Brasil?
Tambor de crioula, reco-reco, pífano, zabumba, ganzá, caixa de folia e instrumentos feitos de osso ou madeira são frequentes em reisados, congadas, maracatus e folias de reis.
Instrumentos indígenas ainda são utilizados atualmente?
Sim. Povos indígenas continuam usando maracás, flautas de taquara, tambores e berimbaus em rituais, danças e celebrações. Esses instrumentos são parte viva de suas culturas.
Qual a diferença entre pífano e flauta convencional?
O pífano é feito artesanalmente, geralmente de bambu, com afinação livre e timbre agudo. Já a flauta convencional é industrializada, afinada com precisão e feita de metal ou madeira refinada.
O maracá é usado em cerimônias religiosas?
Sim. Para muitas etnias indígenas, o maracá é um instrumento sagrado usado por pajés em rituais de cura, cantos sagrados e celebrações espirituais. Seu som representa conexão com os espíritos e a natureza.
Quais instrumentos são típicos do Candomblé e da Umbanda?
Atabaques (rum, rumpi e lê), agogôs, urucungos, ganzás e xequerês são instrumentos fundamentais em rituais dessas religiões. Cada toque tem função específica e está ligado aos orixás e entidades espirituais.
Por que esses instrumentos não aparecem na grande mídia?
Porque a mídia tradicional prioriza estilos comerciais e ocidentalizados. Instrumentos ligados à ancestralidade afro-indígena são marginalizados ou vistos como exóticos, apesar de sua riqueza sonora e simbólica.
Onde aprender a tocar instrumentos tradicionais brasileiros?
ONGs culturais, mestres populares, rodas de saber, terreiros, grupos de maracatu, centros de cultura e algumas universidades oferecem oficinas e vivências com esses instrumentos.
Quem fabrica esses instrumentos tradicionais?
São construídos por mestres artesãos, músicos populares e líderes comunitários. A fabricação envolve técnicas orais e respeito à natureza, com coleta sustentável e saberes ancestrais.
Esses instrumentos têm função apenas musical?
Não. Muitos possuem funções espirituais e cerimoniais. O tambor, por exemplo, é usado para invocar entidades. O maracá é um canal de conexão espiritual. A música, nesse contexto, é sagrada.
É possível encontrar esses instrumentos em museus?
Sim. Museus como o Museu do Índio (RJ), o Museu da Música (MG) e o Museu Afro Brasil (SP) possuem acervos com instrumentos tradicionais. Mas sua presença viva é mais forte nas comunidades de origem.
Quais são os instrumentos típicos da música brasileira tradicional?
Além de pandeiro, cavaquinho e violão, instrumentos como o maracá, pífano, berimbau-de-boca, urucungo e tambor de crioula representam a diversidade sonora brasileira ligada à ancestralidade.
Qual é o instrumento musical mais antigo do Brasil?
Provavelmente o maracá, utilizado por povos indígenas há séculos. É um chocalho feito com cabaça e sementes, com forte presença em rituais e cerimônias.
Qual é o instrumento que parece um arco e produz som grave?
Pode ser o berimbau ou o urucungo. Ambos têm origem africana, são feitos com corda e cabaça, e produzem som com a vibração da vareta. O berimbau é muito usado na capoeira.
Instrumentos de bambu são comuns no Brasil?
Sim. O bambu é base para pífanos, flautas, reco-recos e até para instrumentos de percussão, sendo muito utilizado por indígenas e músicos populares em várias regiões.
Como é feito um instrumento artesanal tradicional?
Usando madeira, bambu, couro, sementes, cabaças e técnicas manuais passadas oralmente. Cada instrumento carrega não só som, mas história, ancestralidade e conexão espiritual.
Esses instrumentos ainda são usados fora de museus?
Sim! Estão vivos em terreiros, comunidades indígenas, quilombos, festas religiosas e rodas de capoeira por todo o Brasil. São parte ativa da cultura popular e da espiritualidade brasileira.
Onde ouvir o som desses instrumentos pouco conhecidos?
Em eventos culturais, rodas de capoeira, festas populares, terreiros e festivais tradicionais. Também é possível encontrar gravações em canais de cultura, etnomusicologia e documentários online.
Livros de Referência para Este Artigo
Dicionário do Folclore Brasileiro – Luís da Câmara Cascudo
Descrição: Publicado pela primeira vez em 1954, este dicionário é uma obra fundamental que compila e explica milhares de termos relacionados às tradições populares brasileiras, incluindo instrumentos musicais, danças, festas e lendas. É uma fonte indispensável para estudiosos e interessados na cultura popular do Brasil.
História da Música Brasileira – Renato Almeida
Descrição: Lançada em 1926, esta obra é considerada uma das primeiras tentativas de sistematizar a história da música no Brasil. Embora reflita as perspectivas de sua época, oferece uma visão abrangente sobre o desenvolvimento musical brasileiro até o início do século XX.
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