
Introdução
Em um mundo cada vez mais acelerado, conectado e técnico, há uma sabedoria que resiste ao tempo, à margem das academias e laboratórios: a dos saberes ancestrais. Parteiras, benzedeiras e raizeiros carregam conhecimentos passados de geração em geração, enraizados na terra, no corpo e no sagrado.
Esses saberes não estão apenas no passado. Eles continuam vivos em comunidades rurais, periferias urbanas, aldeias e quilombos. São formas de cuidado, cura e acolhimento que unem espiritualidade, natureza e afeto. E mais: oferecem respostas onde a medicina moderna e a vida urbana muitas vezes falham.
Neste artigo, vamos explorar o que essas figuras representam, como atuam, e por que o Brasil ainda tem muito a aprender com elas.
Quem São as Parteiras, Benzedeiras e Raizeiros?
Esses nomes carregam respeito. Mais do que “curandeiros” ou “pessoas do mato”, essas figuras são guardiões da sabedoria popular brasileira.
- Parteiras acompanham nascimentos com carinho, espiritualidade e técnicas aprendidas com as mãos e os olhos.
- Benzedeiras protegem e curam com orações, ervas e gestos de fé.
- Raizeiros conhecem o poder das plantas e oferecem remédios da terra, usados há séculos com sabedoria.
Esses saberes vêm da convivência, da escuta, da prática e da ancestralidade — e não dos livros. São conhecimentos coletivos, construídos ao longo do tempo, com base na observação da natureza e na experiência comunitária.
Saberes que Vêm da Terra e da Tradição
As parteiras, benzedeiras e raizeiros não estudaram em faculdades. Mas estudaram a vida. Aprenderam ouvindo os mais velhos, observando o nascer da lua, sentindo o cheiro das ervas e ouvindo as queixas das vizinhas.
Esse saber é oral, vivencial e relacional. Passa de mãe para filha, de vó para neta, de vizinho para aprendiz. Ele respeita o tempo da cura, a força da palavra e o equilíbrio do corpo com o ambiente.
São conhecimentos moldados pela relação direta com o território. As ervas usadas pelos raizeiros, por exemplo, variam de região para região. As rezas das benzedeiras mudam de acordo com a fé local. As parteiras sabem que cada parto é único.
Parteiras: Guardiãs da Vida e da Comunidade
Em muitas comunidades brasileiras, principalmente nas áreas rurais, o nascimento ainda acontece em casa, com o cuidado de uma parteira. Elas conhecem o tempo do corpo e sabem ouvir os sinais da mãe e do bebê.
A parteira não cuida só da gestação. Ela orienta, apoia, reza, acolhe a dor e celebra a vida. É ela quem segura a mão da mãe, que usa panos, infusões e massagens para aliviar o parto. Em muitos lugares, o médico pode faltar, mas a parteira está lá.
Hoje, várias parteiras tradicionais atuam junto ao SUS, sendo reconhecidas por programas como o Parteiras Tradicionais do Brasil, que valoriza sua atuação e promove formação continuada com respeito à cultura local.
Benzedeiras: Fé, Proteção e Cura Popular
As benzedeiras são muito mais do que rezadeiras. Elas são figuras espirituais, que unem fé e cuidado. Costumam atender gratuitamente, em silêncio e com devoção. Fazem benzeduras com ramos de arruda, espada-de-são-jorge, manjericão ou guiné, e rezam em voz baixa, invocando santos ou forças da natureza.
Tratam de males físicos, emocionais e espirituais. Ajudam com:
- “Quebranto” (energia negativa em crianças)
- “Olho gordo” ou inveja
- Espinhela caída
- Nervoso, cansaço, tristeza sem explicação
Mesmo em tempos de avanço tecnológico, muitas pessoas continuam procurando as benzedeiras — porque ali encontram escuta, acolhimento e fé.
Raizeiros: A Medicina que Brota do Chão
Os raizeiros são especialistas no uso de plantas medicinais. Conhecem os ciclos da lua, os horários de colheita e a melhor forma de preparar chás, garrafadas, banhos e unguentos. Não é qualquer um que pode ser raizeiro — é preciso saber, experimentar, respeitar.
Muitos raizeiros foram formados pela prática: viram seus pais e avós cuidarem da comunidade com cascas, raízes, folhas e sementes. Outros são reconhecidos pela comunidade como “doutores da natureza”.
Seus saberes, mesmo não reconhecidos oficialmente pela medicina tradicional, são fontes riquíssimas de cura. Muitas das plantas usadas por eles já foram estudadas e aprovadas pela fitoterapia moderna — mas seus modos de preparo e combinações são únicos.
O Que Ainda Podemos Aprender com Esses Saberes?
Em tempos de excesso de medicamentos, atendimentos apressados e diagnósticos impessoais, os saberes ancestrais ensinam algo essencial: o cuidado com afeto e presença.
Essas práticas:
- Respeitam o tempo de cada pessoa
- Olham o ser humano de forma integral — corpo, mente e espírito
- Valorizam o conhecimento coletivo e comunitário
- Ensinam escuta, empatia e conexão com a natureza
Elas também mostram que nem toda cura vem da farmácia — às vezes, vem de uma conversa, uma oração, uma folha aquecida ou um chá oferecido com carinho.
Invisibilização e Resistência
Apesar de sua importância, essas figuras foram historicamente invisibilizadas ou desacreditadas. Durante muito tempo, parteiras foram perseguidas, raizeiros ridicularizados e benzedeiras acusadas de bruxaria ou charlatanismo.
Isso aconteceu por causa do racismo estrutural, do preconceito religioso e da valorização excessiva da ciência ocidental como única forma de saber.
Ainda hoje, muitos desses profissionais tradicionais atuam sem apoio, em situação de vulnerabilidade. Mas eles resistem. Continuam curando, ensinando e acolhendo — mesmo que não apareçam na TV ou nas universidades.
O Presente e o Futuro da Sabedoria Ancestral
Felizmente, o Brasil começa a reconhecer a importância desses saberes. Há projetos culturais, universidades, ONGs e movimentos sociais que documentam, respeitam e ensinam práticas tradicionais.
- Escolas estão incluindo a sabedoria popular em suas aulas.
- Jovens estão aprendendo com os mais velhos e valorizando sua cultura.
- Parteiras estão sendo reconhecidas como agentes de saúde.
- Benzedeiras estão sendo ouvidas como líderes espirituais.
- Raizeiros estão sendo chamados para rodas de conhecimento sobre plantas medicinais.
O futuro da sabedoria ancestral depende do respeito, da escuta e da continuidade. Esses saberes não podem morrer com os velhos — devem ser sementes para o futuro.
Conclusão
As parteiras, benzedeiras e raizeiros não são personagens do passado. Eles são parte essencial do Brasil que cura com a palavra, com a planta, com o toque e com a fé. São exemplos vivos de que a ciência do cuidado pode ser simples, acessível e profunda.
Valorizar esses saberes é um ato de respeito, de resistência e de amor à cultura brasileira. Eles ainda têm muito a nos ensinar — sobre o corpo, a vida, a natureza e a espiritualidade. Basta escutar.
FAQ – Curiosidades Frequentes Sobre Sabedoria Ancestral, Parteiras, Benzedeiras e Raizeiros
O que é uma benzedeira e qual seu papel na cura popular?
É uma mulher que usa orações, gestos e ervas para curar males físicos e espirituais, como dor, nervosismo, mau-olhado, susto e inveja. Ela representa sabedoria ancestral e cuidado emocional.
Raizeiro e curandeiro são a mesma coisa?
Nem sempre. O raizeiro é especialista em plantas medicinais, com foco na fitoterapia popular. Já o curandeiro pode usar outras técnicas, como benzimento, oração ou massagens, além das ervas.
As parteiras tradicionais ainda atuam no Brasil?
Sim. Elas são essenciais em muitas comunidades rurais e tradicionais. Algumas são reconhecidas pelo SUS e trabalham em parceria com profissionais de saúde, garantindo um parto humanizado e culturalmente respeitoso.
Essas práticas são consideradas religiosas?
Algumas sim, outras não. Muitas têm raízes no catolicismo popular, nas tradições indígenas e nas religiões afro-brasileiras, mas o foco é o cuidado integral — físico, emocional e espiritual.
Por que esses saberes não estão nas escolas?
Por causa do preconceito histórico contra a cultura popular. Mas esse cenário está mudando com a valorização da educação antirracista e dos saberes tradicionais em projetos pedagógicos e culturais.
Como os raizeiros aprendem a usar as ervas?
Aprendem com os mais velhos, observando a natureza, testando combinações e respeitando o tempo das plantas. São conhecimentos transmitidos oralmente, com forte influência indígena e africana.
Esses saberes são considerados científicos?
Nem sempre nos moldes da ciência moderna, mas muitos são validados pela fitoterapia e pela medicina integrativa. A ciência começa a reconhecer o valor dos saberes populares no cuidado comunitário.
Como posso aprender a benzer ou usar plantas medicinais?
O caminho mais tradicional é aprender com quem já pratica: avós, líderes comunitários, raizeiros e benzedeiras. Há também cursos, rodas de saber e projetos de documentação cultural disponíveis.
Existe diferença entre parteira tradicional e parteira formada?
Sim. A parteira tradicional aprende pela experiência e pela oralidade. Já a parteira formada estuda em instituições técnicas. Ambas podem atuar juntas, somando saber científico e ancestral.
É seguro ser atendido por uma benzedeira ou raizeiro?
Sim, desde que com respeito e bom senso. Muitas pessoas buscam esses saberes como complemento aos cuidados médicos, especialmente em situações emocionais, espirituais ou leves.
Como saber se uma planta medicinal é segura?
Raizeiros experientes conhecem bem as plantas. No entanto, é importante consultar profissionais ou especialistas antes de usar ervas desconhecidas, principalmente em casos graves, gravidez ou em crianças.
As benzeduras realmente funcionam?
Para muitas pessoas, sim. Além da fé, o ritual de benzer envolve acolhimento, escuta ativa e intenção positiva. A ciência já reconhece que o cuidado simbólico pode gerar efeitos terapêuticos reais.
Essas práticas são reconhecidas pelo SUS?
Sim. O SUS reconhece parteiras tradicionais, fitoterapia e outras práticas integrativas. Benzedeiras e raizeiros também são valorizados em políticas públicas de saúde e cultura popular.
Qual o papel das mulheres na cura tradicional?
Central. Mulheres são as principais transmissoras dos saberes ancestrais, atuando como parteiras, benzedeiras, educadoras e líderes espirituais. Elas mantêm viva a memória coletiva nas comunidades.
Onde esses saberes ainda são praticados com frequência?
Em áreas rurais, quilombolas, indígenas e nas periferias urbanas. Nessas regiões, o acesso à saúde convencional é limitado, e o conhecimento popular continua sendo fonte essencial de cuidado e resistência.
Essas práticas fazem parte apenas de religiões afro-brasileiras?
Não. São saberes sincréticos, influenciados por diversas tradições: catolicismo popular, espiritualidade indígena, Umbanda, Candomblé e conhecimentos locais. São práticas culturais, não exclusivas de uma religião.
O que faz uma parteira no momento do parto?
Ela acompanha toda a gestação e realiza o parto com técnicas ancestrais, muitas vezes em casa, oferecendo acolhimento, escuta e segurança. Representa o cuidado comunitário no nascimento da vida.
Como saber se uma planta medicinal realmente tem efeito?
Muitas ervas populares têm comprovação científica. Boldo, camomila, hortelã e erva-doce, por exemplo, são reconhecidas por seus efeitos. O ideal é combinar saber tradicional com orientação segura.
Benzer pode ajudar em casos de ansiedade ou estresse?
Sim. O ato de benzer traz acolhimento, escuta e relaxamento. Muitas pessoas relatam alívio após a benzedura, especialmente quando feita com fé, empatia e intenção de cura emocional.
Existe curso para aprender a benzer?
Sim, embora o mais comum seja aprender com familiares ou mestres da comunidade. É um saber transmitido com responsabilidade, fé e conexão espiritual, respeitando a tradição oral.
Essas práticas são legais no Brasil?
Sim. A Constituição reconhece a diversidade cultural. O SUS inclui práticas como fitoterapia e parteiras tradicionais, e muitos estados valorizam benzedeiras e raizeiros em políticas de saúde e cultura.
Parteiras ainda fazem partos sozinhas?
Sim, especialmente em áreas onde o acesso ao hospital é limitado. Muitas parteiras atuam com segurança, respeito à tradição e até formação complementar, sendo respeitadas pela comunidade e por profissionais da saúde.
Quais chás os raizeiros indicam para dor de barriga?
Ervas como boldo, camomila, hortelã e erva-doce são comumente usadas. Cada caso exige avaliação cuidadosa. Evite automedicação e procure orientação, especialmente para crianças, grávidas ou idosos.
Qual a diferença entre raizeiro e fitoterapeuta?
O raizeiro aprende pela tradição e prática comunitária. O fitoterapeuta tem formação acadêmica. Ambos trabalham com plantas medicinais e podem atuar de forma complementar no cuidado à saúde.
Saberes populares podem substituir o médico?
Não. Eles são complementares. Para doenças graves ou emergências, é essencial procurar atendimento médico. Benzedeiras, raizeiros e parteiras atuam com responsabilidade e muitas vezes em parceria com o sistema de saúde.
Livros de Referência para Este Artigo
Parteiras Tradicionais: conhecimentos compartilhados, práticas e cuidado em saúde. – SCHWEICKARDT, Júlio César; SOUSA, Marília de Jesus da Silva e; NASCIMENTO, Ana Claudeise Silva do
Descrição: Esta obra reúne relatos e estudos sobre a atuação de parteiras tradicionais na Amazônia, destacando seus saberes e práticas no cuidado à saúde.
Benzedeiras – Fé e Cura no Sertão: Relações entre Ciência, Espiritualidade e Saúde. – LIMA, Itamar da Silva.
Descrição: O livro explora o papel das benzedeiras no contexto sertanejo, analisando como suas práticas dialogam com a ciência e a espiritualidade.
Plantas Medicinais do Mato Grosso: A Farmacopeia Popular dos Raizeiros.
Descrição: Esta publicação documenta o conhecimento dos raizeiros sobre o uso de plantas medicinais no Mato Grosso, contribuindo para a valorização da medicina popular.
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